Fuga

Arte é vazão
Mata e mete
Mas remete
É remissão

Arte é alusão
Conduz ao pó
Mas é polida
É ilusão

Arte é parte
É o que te parte
É contraparte
Não é lição

É especular
Espetacular
Experiencial
Especulação

É fuga em lá
Nem maior
Nem menor
- ar te insufla -
Sem salvação

euforia, náusea

diz menos da pessoa
mais das taras
esta mão decepada
manchando o papel - galinha que esguicha
sangue pelas artérias
enquanto a cabeça
repousa
na terra
assustada

Futurismo



procuro a casa na mata Barreiro
tiê-sangue, jacutinga, quati, cotia, onças
pardas contemplando a sua execução
por minhas mãos obedientes

procuro a casa na avenida das Begônias
simetria ao redor da clarabóia, comunhão
de espaços, entreolhares a iluminar
paisagem generosa, viga do arquiteto
e no meu peito só o pierrô
na parede

procuro a casa na rua das Malvas
escadarias barrocas, tabus entranhados
nas curvas de mulher, turgidez
perturbação, desbunde
ornamentado de vôos de iates
me apadrinhando a realeza
carnaval às avessas



foram erguidas na avenida das Nações Unidas sobre o novo templo de consumo da cidade nove torres de ostentação e gesso para morada de personagens da minha infância e adolescência sentaram-se à mesa rodeadas pelos mesmos comensais e continuam



o abandono das casas
o despertencimento
a exclusão
as ladeiras
a cesura
precário arrimo em palavras