Futurismo



procuro a casa na mata Barreiro
tiê-sangue, jacutinga, quati, cotia, onças
pardas contemplando a sua execução
por minhas mãos obedientes

procuro a casa na avenida das Begônias
simetria ao redor da clarabóia, comunhão
de espaços, entreolhares a iluminar
paisagem generosa, viga do arquiteto
e no meu peito só o pierrô
na parede

procuro a casa na rua das Malvas
escadarias barrocas, tabus entranhados
nas curvas de mulher, turgidez
perturbação, desbunde
ornamentado de vôos de iates
me apadrinhando a realeza
carnaval às avessas



foram erguidas na avenida das Nações Unidas sobre o novo templo de consumo da cidade nove torres de ostentação e gesso para morada de personagens da minha infância e adolescência sentaram-se à mesa rodeadas pelos mesmos comensais e continuam



o abandono das casas
o despertencimento
a exclusão
as ladeiras
a cesura
precário arrimo em palavras

3 comentários:

  1. acho que esse poema é do marcelo né?

    procurar a casa como quem procura a língua
    a simetria dos versos ritmados,
    procurar a casa como quem escreve o poema
    no esforço de pensar suas possibilidades
    e saber-se precário, mãos obedientes, arrimo
    as misturas entre verso e prosa
    dicção

    que poema bonito, que poema bonito.

    beijos
    ez

    ResponderExcluir
  2. ez, vou fazer aqui um eco, bonito, bonito...
    Andréa

    ResponderExcluir
  3. Que bom que o Marcelo resolveu mostrar seus poemas. Gosto bastante do ritmo, das palvras, da mistura de verso e prosa, das contradições. Bonito mesmo.

    Fica cada vez mais feliz em discutir poesia com todos Vcs. Li certa vez que, na verdade, todos os poemas são de amor. Acho que isso diz tudo.

    Abraços do

    Danilo

    ResponderExcluir